As sociedades de esperanto criadas em Porto Alegre desde 1906

 

Por ocasião do 15º Congresso Brasileiro de Esperanto, realizado em 1957, em Niterói, RJ, o Sr. Benjamin C. Camozato, eminente esperantista gaúcho de então, apresentou seu trabalho sobre o Movimento do Esperanto no Estado do Rio Grande do Sul, cujo texto foi posteriormente reproduzido nos Anais do referido evento. A respeito das sociedades esperantistas criadas em Porto Alegre, todas elas na primeira metade do séc. 20, e não mais existentes, destacamos alguns elementos históricos de sua fala, acrescidos de outras observações:

Artigo no Deutsche Zeitung / Lorenz

Em 1894, sete anos depois do surgimento do esperanto, Arno Philipp, diretor do Deutsche Zeitung, jornal em alemão que circulava em Porto Alegre, publicou um artigo no mesmo sobre a língua de Zamenhof. Desde 1896, Francisco Valdomiro Lorenz, imigrante tcheco que acabou radicando-se na cidade de Dom Feliciano, RS, fortalece a divulgação do idioma não só no extremo sul, mas em todo o País. De sua autoria, tem-se o Esperanto sem Mestre, um verdadeiro clássico em termos de livros-textos. 

Esperanta Societo Sud-Rio-Granda

Já no início do séc. 20, um movimento esperantista começa a se formar em Porto Alegre, impulsionado por figuras como Cristiano Kraemer, Reinaldo Frederico Geyer e Benjamin C. Camozato. Kraemer divulga o esperanto em nível local graças aos seus artigos no jornal Correio do Povo. Geyer e Camozato, ainda estudantes, chegaram a elaborar uma gramática e um dicionário, que infelizmente, por razões financeiras, não conseguiram publicar. De qualquer forma, o trabalho pioneiro dos citados, bem como de outros companheiros, resultou na fundação em 2 de setembro de 1906, no Clube Caixeiral, da Esperanta Societo Sud-Rio- Granda, a terceira entidade esperantista criada no País, todas no mesmo ano. Ao Brazila Klubo Esperanto, no Rio de Janeiro, foi enviado o seguinte telegrama: "Ontem tarde numerosa concorrência inaugurada Esperanta Societo Sud-Rio-Granda 122 samideanoj." Como resposta, recebeu-se a seguinte mensagem telegrafada: "Agradecemos comunicação. Calorosamente abraçamos caros samideanoj. Vivu Zamenhof! Vivu nia lingvo! - Brazila Klubo." Infelizmente por motivos vários (Camozato não faz referências a eles), a agremiação teve curta existência. Camozato menciona o fato de que "a implacabilidade do tempo, que elimina valores, foi mudando o aspecto humano".

Correio do Povo de 04/set/1906 - Foto obtida graças ao Núcleo 

de Pesquisas Históricas (NPH-UFRGS)

Brazila Revuo Esperantista nº 6

Grêmio Esperantista Everardo Backheuser

Em 1923 é fundado o Grêmio Esperantista Everardo Backheuser, de curta duração.

Sud-Brazila Esperantistigilo

Em 12 de julho de 1927, conforme ata de fundação (Camozato equivocou-se quanto à data), igualmente no Clube Caixeiral, foi criada a Sud-Brazila Esperantistigilo, tendo inicialmente o nome de Esperanto-Centro de Porto Alegre, responsável pela promoção de cursos ministrados pelo Gen. Feliciano Domingues, Ary Zamora, Viterbo de Carvalho e Benjamin Camozato, com divulgação nos jornais Correio do Povo, Diário de Notícias e A Federação. Em 1936, a sociedade consegue junto à Prefeitura, então governada por Alberto Bins, que uma das ruas do bairro São João, na zona norte da cidade, fosse designada como Rua Zamenhof. A instituição acabou sendo extinta depois de alguns anos em função da ida de Viterbo de Carvalho para o Rio (tal como Reynaldo F. Geyer, diga-se de passagem), bem como "a dispersão de preciosos elementos", no dizer de Camozato.

A Federação, de 04/jul/1927 - Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Esperantista Societo de Porto Alegre

A mais exitosa sociedade esperantista surgida em Porto Alegre foi sem qualquer sombra de dúvida a ESPA-Esperantista Societo de Porto Alegre, fundada a 2 de abril de 1945, tendo à frente os professores Paulo Menezes e Lúcio Vieira. Sua primeira diretoria era constituída de Ary Zamora (presidente), Alberto Sieber (vice-presidente), Bóris Eston (1º secretário), Lizipo José Rodrigues (2º secretário, Aloys Furtenbah (1º tesoureiro) e José Martins (2º tesoureiro). Em 1995 festejou seus 50 anos de existência, mas infelizmente veio a desaparecer poucos anos depois. Coube à ESPA a iniciativa da realização de alguns dos Encontros Gaúchos de Esperanto, vários encontros locais e um número sem fim de cursos de esperanto ao longo do tempo, dentre outras atividades em prol da divulgação do idioma na cidade.

Atualmente a Associação Gaúcha de Esperanto, fundada em julho de 1982 por Ivo Sanguinetti, constitui-se na única entidade esperantista em ação não só na capital bem como em todo o estado do Rio Grande do Sul. Sua página no Facebook tem como endereço: https://www.facebook.com/esperanto.rs.

Referência:

Os pioneiros. Kelkvorte, Porto Alegre, ago. 2017, p. 2.